EFATÁ! ABRE-TE!
Florentino UlibarriQue os surdos deixem de se fazer de surdos,
que se limpem os ouvidos a fundo
e saiam às praças e caminhos,
que se atrevam a ouvir o que têm que ouvir:
o grito e o pranto, a súplica e o silêncio
das pessoas que já não aguentam a sua situação.
Que os mudos tomem a palavra
e falem clara e livremente
nesta sociedade confusa e fechada,
que se tirem os medos e mordaças
e se atrevam a pronunciar as palavras
que todos têm direito a ouvir:
as que nomeiam, se entendem e não enganam.
Dá-nos ouvidos atentos e línguas soltas!
Que ninguém deixe de ouvir o clamor dos silenciados,
nem se fique sem palavra perante tantos silenciados.
Sede, para os que não ouvem, tímpanos que se comovam;
palavras vivas para os que não falam;
microfones e alta-vozes sem travões nem filtros
para pronunciar a vida e confidenciar a esperança,
a todos os que caminham e procuram.
Que os surdos ouçam e os mudos falem!
Que se rompam as barreiras
da incomunicação humana
nas pessoas, famílias, povos e culturas.
Que todos tenhamos voz próxima e clara
e sejamos ouvintes da Palavra nas palavras.
Que construamos redes firmes
para o diálogo, o encontro e o crescimento
na diversidade e tolerância.
Dá-nos ouvidos atentos e línguas soltas!
Que se nos destrave a língua
e saia da boca a Palavra inspirada.
Que nos abram os ouvidos para receber
a Palavra salvadora, já pronunciada,
no mais fundo das nossas entranhas.
Que se faça o milagre nos sentidos
da nossa condição humana
para recuperar a dignidade e a esperança.
Para o grito e a prece,
para o canto e o louvor,
para a música e o silêncio,
para o monólogo e o diálogo,
para a brisa e o vento,
para escutar e pronunciar as tuas palavras
aqui e agora, nesta sociedade incomunicável,
Tu que fazes ouvir os surdos e falar os mudos...
Dá-nos ouvidos atentos e línguas soltas!
Florentino Ulibarri
Traducción de Marcelino Paulo Ferreira