Senhor, concede-me o dom de ser criança

para poder descansar no teu regaço

sem vergonha e sem medo,

pois à medida que crescemos

outros interesses fazem-nos esquecer

que a confiança e a ternura

são imprescindíveis para amadurecer

e percorrer os teus caminhos.

Concede-me o dom de ser criança

para saber olhar os outros

com carinho e transparência,

pois a passagem dos anos

vai carregando a nossa vida

de suspeições, temores e invejas

que curvam as nossas costas

e comprimem as nossas entranhas.

Concede-me o dom de ser criança

para confiar nos outros

e partilhar gratuitamente,

com generosidade e perfeição,

o que de ti recebo, cada dia, para ser feliz;

pois o egoísmo, a avareza e as comparações

apagam todas as estrelas

e acendem as nossas mais obscuras vaidades.

Concede-me o dom de ser criança;

tira-me tudo o que me impede de chegar a ti

e me afasta dos que são crianças

e estão cheios de carências e necessidades;

tira-me a desconfiança, o dobrez e o orgulho

que não aceita perder-se entre os mais pobres.

Que recupere, no corpo e no espírito,

a maleabilidade da criança para servir!

Faz-me criança outra vez!

E assim, sim, consigo alcançar-te

ou não consegues deter-me,

ou não me deixo amar,

ou não aprendo a servir,

ou acredito que sou mais e melhor,

ou não me dou aos que ti queres,

volta-te, Senhor, para mim

e fala-me como uma mãe fala ao seu bebé.